Tela e crianças: o que é importante?

Tela e crianças: o que é importante?

Ao mesmo tempo em que as evidências científicas aumentam, a exposição das telas às crianças também cresce. Mas a tecnologia não é ameaça: ela precisa ser usada de forma mais produtiva pelas famílias.

*Por Dra. Denise Lellis

 

A exposição das crianças às telas já é tema de preocupação da ciência há pelo menos uma década. Vários autores vêm publicando artigos tentando demonstrar que a exposição excessiva às telas pode alterar o comportamento e desenvolvimento das crianças, em especial, daquelas muitos pequenas.

O primeiro documento que tenta determinar o tempo ideal de tela para criança data de 2016, pela Academia Americana de Pediatria e, em seguida, pela Sociedade Brasileira de Pediatria.

Segundo os dados, crianças menores de 24 meses não devem ser expostas às telas. Crianças de dois a cinco anos poderiam ficar em frente  às telas por uma hora e crianças acima de cinco e seis anos poderiam ficar expostas duas horas por dia. Mas ao mesmo tempo em que surgem – cada vez mais –  evidências científicas, a exposição das telas às crianças também aumenta. E aí, a idade é cada vez mais precoce.

Hoje sabemos: é quase unanimidade uma criança em fase pré-escolar, escolar ou já adolescente ter um celular…e total liberdade de uso desse aparelho. Entretanto, grandes estudiosos dizem que crianças só deveriam ficar sozinhas online quando tivessem capacidade de também irem sozinhas até o metrô. Ou seja, muito mais importante que o tempo de tela é saber o que as crianças ficam fazendo diante dela.

Que tal tentar dividir esse tempo de modo mais funcional?

Por exemplo: é considerado tempo funcional de tela realizar as atividades escolares online. Conversar com família ou amigos por meio virtual também é considerado tempo funcional.

Já outras atividades podem ser divididas em tempo de tela ativo ou passivo.

  • Tempo de tela ativo: quando é exigida alguma interação da criança. Mas aqui, atenção: precisamos ser mais exigentes, pois apertar um botãozinho pode não ensinar nada para seu filho e ainda mexer com o centro de recompensa cerebral da criança, o que vai fazer com que ela queira cada vez mais mexer naquele brinquedo digital.
  • Tempo de tela passivo: a criança só assiste, não precisa interagir.

Outra forma de reduzir os danos de tempo de tela é assistir a alguma coisa junto com a criança, interagir durante o uso da tela, comentando o que ela está vendo e logo depois relembrá-la e conversar com ela sobre o que foi assistido. Isso aumenta as chances de algum aprendizado depois que a criança foi exposta ao conteúdo.

Resumindo: é enxugar gelo falar para as famílias não usarem as telas, pois elas já estão usando. E passou da hora de nos preocuparmos a como ensinar as famílias a usarem as telas de modo mais produtivo. A tecnologia sempre foi solução. A ameaça está em como desfrutamos dela. Na era digital, nada mais justo do que aprender a usar a tecnologia a nosso favor.

 

Sobre Dra. Denise Lellis – Doutora em Pediatria pela USP, é membro do departamento de Obesidade Infantil da ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica), pediatra da Liga de Obesidade Infantil da FMUSP e Coordenadora do curso de Nutrologia Pediátrica para consultório do CAEPP (Centro de Apoio ao Ensino e Pesquisa em Pediatria).

 

Serviço:

https://linktr.ee/deniselellis