Em 10 anos, cerca de 23% das crianças de 5 a 9 anos terão obesidade

Em 10 anos, cerca de 23% das crianças de 5 a 9 anos terão obesidade

Pediatra comenta a importância do Guia Alimentar

 

“É primordial que o Guia Alimentar para a População Brasileira publicado em 2014 com nova classificação de alimentos seja levado a sério, assim como o Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 anos, porque esse último documento, especificamente, leva em consideração a alimentação não apenas como um caminho nutricional, mas também social. Trata-se de um material muito rico, que precisa ser valorizado pela pediatria e por quem trabalha com a infância, já que muitos dos problemas de saúde na vida adulta começam na nessa fase”, declara Dra. Denise Lellis, PHD em Pediatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

Segundo a médica especializada em Nutrologia pediátrica e comportamento alimentar, o Guia Alimentar representa uma grande oportunidade para que a população obtenha orientações melhores e menos enviesadas para fazer suas escolhas alimentares. “Nossa preocupação é nos capacitarmos para ajudar as pessoas a ignorarem as outras informações enviesadas e poderem escolher uma alimentação saudável, ou seja, comida de verdade”, alerta ela.

Obesidade infantil –  De acordo com o Atlas da World Obesity, a previsão é que o Brasil tenha em 2030, ou seja, daqui 10 anos, cerca de 23% de suas crianças de 5 a 9 anos com obesidade. “Precisamos olhar para isso com muita preocupação já que a previsão é de obesidade para crianças que ainda vão demorar cinco anos pra nascer. Sem dúvida o Guia Alimentar é peça fundamental para melhorar o futuro nutricional das crianças”, comenta Dra. Denise.

Prevenção de obesidade já na infância – Os trabalhos mais promissores de prevenção de obesidade e de outros problemas alimentares que envolvem alimentação na infância não dizem respeito somente à alimentação e sim para o estilo de vida ao qual as crianças estão expostas. E quando os trabalhos olham para alimentação eles têm considerado não apenas o nível de processamento e palatabilidade dos ‘alimentos muito saborosos’. Tais estudos levam em conta o estilo de vida da criança e o meio ambiente onde ela está inserida e são os alimentos ricos em fibras ou in natura as fontes promissoras para prevenção de problemas alimentares com desfechos desfavoráveis.

“Um dos estudos que mais mostrou queda da obesidade no mundo, feito por uma operadora de saúde na California, reduziu o consumo de bebidas açucaradas e aumentou o consumo de alimentos in natura. Resultado: a prevalência de obesidade diminuiu 1.6%”, conta a pediatra.

É sabido que o comportamento alimentar nas crianças passa por componentes que transcendem a fome biológica: existe o apetite hedônico (apetite emocional, do prazer) diretamente ligado aos alimentos hiperpalatáveis – cheios de açúcar, gordura e sal – que são os alimentos ultraprocessados. “Não se pode pensar apenas nos macronutrientes, mas em quanto de sabor estamos oferecendo para as crianças, porque esse apetite ligado ao prazer vai querer ser repetido, e isso explica a interface entre dificuldade alimentar e obesidade na infância. Estudos mostram que 30% das crianças obesas são altamente seletivas e optam sempre por esses alimentos saborosos e ultraprocessados. Portanto, evitar esses alimentos é benéfico para infância e, consequentemente, para a saúde dela no futuro como adulta”, explica Dra. Denise.

 

Guia alimentar e o MAPA

O argumento do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) é de que o Guia Alimentar é confuso e pode atrapalhar as escolhas alimentares das pessoas. Para a pediatra, o que atrapalha são as sugestões enviesadas de publicidade e neuromarketing envolvidos nos alimentos que têm a quantidade exata de sal-gordura-açúcar – tornando-os hiperpalatáveis e quase impossível de comer um só.

Ela ainda explica que o agravante importante na pediatria sobre esses alimentos hiperpalatáveis, é que a criança não tem a função executiva totalmente formada, ou seja, a capacidade de planejamento, tomada de decisão antes de uma ação. “As crianças veem o alimento e o comem; elas não têm julgamento e preocupação para controlar esses impulsos e buscam o retorno dessa ‘recompensa’ frequentemente. Várias sociedades médicas se posicionaram a favor do Guia e contra os argumentos do MAPA. Estamos dando os primeiros passos”, finaliza a pediatra.

 

Sobre Dra. Denise Lellis – Doutora em Pediatria pela USP, é membro do departamento de Obesidade Infantil da ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica), pediatra da Liga de Obesidade Infantil da FMUSP e Coordenadora do curso de Nutrologia Pediátrica para consultório do CAEPP (Centro de Apoio ao Ensino e Pesquisa em Pediatria).

 

Serviço:

https://linktr.ee/deniselellis