A infância está mais fácil ou mais difícil?
Surgimento de vacinas traçou novas perspectivas para infância
O senso comum pode acreditar que ser criança hoje em dia é difícil, afinal, elas vivem mais confinadas em apartamentos, distantes de seus pais que têm longas jornadas e trabalho e com acesso facilitado a produtos de baixo teor nutricional.
“Porém, por mais ‘perigos’ que a sociedade contemporânea ofereça às crianças, este é o melhor século para nossos filhos viverem. Aliás, pela primeira vez na história, a criança deixou de sobrevier para viver e desempenhar um papel social de valor inédito”, explica a pediatra Dra. Denise Lellis, PHD em Pediatria pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Períodos de fome em massa, epidemias, desorganização social, total falta de informação e grandes guerras sempre permearam e ameaçaram a vida humana. “A criança não tinha qualquer valor social ou importância na maioria das comunidades até muito pouco tempo atrás, até porque era muito provável que não conseguissem sobreviver.
Dados da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (FSEADE) revelam que em 1901 no município de São Paulo a taxa de mortalidade infantil (mortes de crianças menores de 1 ano por 1000 nascidos vivos) era de 178 e que este número caiu para 15,8 no ano 2000 e para menos de 13 em 2017. Só entre os anos 1900 e 2000 a mortalidade em menores de 12 meses reduziu mais de 84%.
Quase 20% dos óbitos na época eram causados por diarreia e mais de 15% eram causados por pneumonia ou outras doenças respiratórias.
De acordo com o IBGE a taxa de mortalidade infantil caiu de 146,6 para 12,8 a cada 1000 nascidos vivos de 1940 até 2017, sendo hoje as principais causas de óbito nessa população, aquelas ligadas a complicações do período neonatal e síndromes congênitas. Ou seja, as causas de mortalidade infantil até 12 meses que envolviam em especial doenças infecciosas tiveram uma drástica redução no último século, redução que tornou possível que a infância tomasse outro lugar na sociedade.
“Desde o século XVIII, quando foi desenvolvida a primeira vacina contra varíola até os dias atuais, a imunização ajuda a transformar a história da saúde da infância e consequentemente dos adultos também”, comenta Dra. Denise.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de 2 a 3 milhões de mortes no mundo são evitadas todos os anos por causa da prevenção realizada pelas vacinações em massa. Ou seja, com o conhecimento e tecnologia em saúde vigentes no século XXI, as crianças não só têm a chance de sobreviver, mas de viver. E com o devido acesso à saúde preventiva, elas podem ter a chance de viver mais tempo do que qualquer outra geração.
Sobre Dra. Denise Lellis – Doutora em Pediatria pela USP, é membro do departamento de Obesidade Infantil da ABESO (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica), pediatra da Liga de Obesidade Infantil da FMUSP e Coordenadora do curso de Nutrologia Pediátrica para consultório do CAEPP (Centro de Apoio ao Ensino e Pesquisa em Pediatria).