Aparelho auditivo, quando bem indicado para os casos de zumbido, pode melhorar ou curar a doença em 80% dos casos, segundo pesquisa

Aparelho auditivo, quando bem indicado para os casos de zumbido, pode melhorar ou curar a doença em 80% dos casos, segundo pesquisa

Pacientes com perda auditiva não reabilitados apresentam 30% mais chances de desenvolver declínio cognitivo e até mesmo Alzheimer

Estudos mostram que o aparelho de amplificação sonora individual (AASI) pode sim melhorar ou curar o zumbido, desde que este seja decorrente em parte ou em sua totalidade de privação auditiva, por exemplo por perda auditiva induzida por ruído, medicamentos (ototoxicidade), infecção, surdez súbita, ou de origem genética e familiar.

Um estudo recente do Grupo de Pesquisa de Zumbido do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP) mostrou que 80% dos pacientes com zumbido e perda auditiva, que citam incômodo com estes sintomas e foram indicados para AASI, melhoram ou curam o zumbido cerca de seis meses após início da terapia. Alguns pacientes deixam realmente de perceber o zumbido após certo tempo de terapia, mesmo nos momentos que retiram o AASI, por exemplo, para dormir ou tomar banho. Outros só percebem o zumbido neste momento, mas bem menos incômodo ou perceptível do que antes.

Segundo Dra. Jeanne Oiticica, médica otorrinolaringologista e Chefe do Grupo de Pesquisa em Zumbido do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, isso ocorre porque o AASI promove uma diminuição do contraste (o silêncio, a privação auditiva), ou seja, aumenta a percepção de sons ambientais o que acaba mascarando parcial ou completamente o zumbido.

Além disso, quando o zumbido está associado a uma dificuldade auditiva, o paciente, muitas vezes, faz um esforço enorme para escutar e entender o que está acontecendo a sua volta, isso demanda muita energia, o que acaba gerando um esgotamento cerebral e cognitivo.

Alzheimer – A especialista ressalta que pacientes com perda auditiva não reabilitados, ou seja, não tratados, e que permanecem em privação auditiva, nos seus mais diversos graus (parcial ou quase total para sons), apresentam 30% mais chances de desenvolver declínio cognitivo e até mesmo Alzheimer. “Descobriu-se que a audição é fundamental para o mecanismo e fenômeno de memória, atenção e cognição no cérebro. Além do que uma pessoa com dificuldade auditiva tende a se isolar socialmente para evitar o esforço que precisa fazer em roda de conversas e no convívio social. Esse isolamento é outro fator que contribui para o declínio cognitivo”, explica a Chefe do Grupo de Pesquisa em Zumbido do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Outro efeito que a médica destaca é que o AASI reduz a reorganização cortical atípica, que se instala porque a privação auditiva aumenta a atividade e a taxa de disparos dos neurônios auditivos vizinhos à área lesada ou surda no cérebro. Isso determina uma hiperatividade neural no córtex auditivo central, e é esta congestão ou excesso de atividade e de informação que pode muitas vezes ser percebida na forma de zumbido, como se fosse um curto circuito. Esta sobrecarga diminui após adaptação de AASI, o que muitas vezes reduz a percepção do zumbido.

Qualquer causa de zumbido pode ser tratada com o aparelho?

Nem todo paciente com zumbido pode ser tratado desta forma. Cerca de 90% dos pacientes com zumbido apresentam algum grau de perda auditiva, mas nem todos se incomodam ou referem dificuldade, já que muitas vezes esta perda não é significante ou impacta no dia a dia.

“Perto de 40% dos pacientes com zumbido referem dificuldade na capacidade de escutar sons ou de entender o que as outros falam. Por isso, é fundamental, antes de mais nada, investigar a causa do zumbido, fazer o topodiagnóstico da lesão e determinar se o problema está nas células ciliadas responsáveis pela audição e que estão na cóclea. Se este for o caso, aí sim está indicada a terapia com AASI, desde que a causa da surdez tenha sido determinada e esta esteja sob correção ou acompanhamento”, comenta Dra. Jeanne.

Não existe restrição de idade. A partir dos seis meses de vida o tratamento pode ser indicado. O que ainda existe, segundo a especialista, é muito preconceito no quesito uso, em especial pela questão estética (vergonha de se expor em público em uso de AASI). Porém, hoje em dia, os aparelhos são muito discretos e imperceptíveis.

 

Perfil Dra. Jeanne Oiticica

Médica otorrinolaringologista, concursada pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Orientadora do Programa de Pós-Graduação Senso-Stricto da Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da USP.

Chefe do Grupo de Pesquisa em Zumbido do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Professora Colaboradora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Responsável do Ambulatório de Surdez Súbita do hospital das Clínicas – São Paulo.