SDI já é um problema de saúde pública

SDI já é um problema de saúde pública

A especialista em Otorrinolaringologia e Chefe do Grupo de Pesquisa em Zumbido do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, Dra. Jeanne Oiticica, alerta que a tontura e o desequilíbrio estão entre as queixas mais comuns em idosos e representam um problema de saúde pública crescente por aumentar, significativamente, o risco de quedas. É a chamada Síndrome do Desequilíbrio do Idoso (SDI).

Em estudo populacional na cidade de São Paulo, a incidência de tontura atingiu seu pico em dois grupos etários: 49%, em indivíduos dos 46 a 55 anos de idade, e 44%, em indivíduos acima de 65 anos de idade.

Com a idade, todos os sentidos essenciais ao equilíbrio, a visão, o labirinto e a propriocepção (músculos, tendões, articulações) sofrem deterioração. De acordo com Dra. Jeanne, embora a tontura em idosos seja multifatorial, a disfunção vestibular periférica é uma das causas mais frequentes. “A deterioração da função vestibular periférica relacionada à idade tem sido demonstrada por meio de exames complementares, que comprovam que tal diminuição deve-se a perda de células ciliadas (sensores de movimento localizados dentro do nosso labirinto) e neurônios vestibulares”, explica a especialista.

A Síndrome do desequilíbrio do Idoso é a 3ª mais frequente alteração do equilíbrio corporal nessa faixa etária, e responde por 30% dos casos. As duas primeiras são insuficiência vértebro basilar – IVB (40%) e a alteração metabólica relacionada ao metabolismo de açúcar e colesterol (40%). Lembrando ,que estes percentuais ultrapassam 100% visto que em metade dos casos mais de uma etiologia está presente.

“A postura e o equilíbrio dependem da integração de estímulo visual, vestibular, neurológico e musculoesquelético no sistema nervoso central, e podem ser decorrentes de disfunções em qualquer um destes sistemas. A função de todos estes componentes deteriora-se com a idade. A causa da tontura no idoso é complexa e ocorre por múltiplos fatores. Acredita-se que o mecanismo da perda celular relacionada à idade decorre da somatória, predisposição genética e efeito cumulativo do estresse oxidativo e comorbidades associadas”, explica Dra. Jeanne.

Sintomas – Os principais sinais reportados na Síndrome do Desequilíbrio do Idoso são desequilíbrio, desvio de marcha, instabilidade, lentificação de movimentos, quedas frequentes e dificuldade para atravessar a rua, movimentação em monobloco. A limitação aumenta em locais com muitas informações visuais.

O tratamento deve ser personalizado. A reabilitação vestibular é ferramenta eficaz no tratamento da disfunção vestibular unilateral e bilateral, e trata-se do mais indicado (60% dos casos). A maioria dos pacientes precisa ser submetida a mais de uma abordagem terapêutica. “No caso de alterações metabólicas e hormonais, as mesmas precisam ser clinicamente corrigidas. Outro achado frequente entre idosos é o uso de diferentes classes de remédios (diuréticos, anticonvulsivantes, anti-hipertensivos, ansiolíticos e antidepressivos), que muitas vezes interagem e potencializam o aparecimento de tonturas, por agravar e acentuar a disfunção decorrente da idade e do envelhecimento do sistema. Alguns medicamentos capazes de melhorar a integração sensorial do equilíbrio no sistema nervoso central podem ser indicados, caso a caso”, explica a médica.

Alimentação de qualidade, exercícios físicos regulares, alongamentos e uma boa hidratação podem contribuir para limitar/retardar o desenvolvimento da SDI. Junto com essas medidas, o controle adequado das comorbidades associadas, evitar jejum, consumo excessivo de doces, sal e condimentos, bebidas alcóolicas e tabagismo são essenciais. “Oriento também a fazer o controle regular do uso de dois ou mais medicamentos, com o ajuste da dose e horário, restrição ou troca, a depender dos sintomas associados, visto que a interação entre as drogas pode causar tonturas”, alerta a especialista.

 

Perfil Dra. Jeanne Oiticica

Médica otorrinolaringologista concursada do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Orientadora do Programa de Pós-Graduação Senso-Stricto da Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da USP.

Chefe do Grupo de Pesquisa em Zumbido do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Professora Colaboradora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Chefe do Laboratório de Investigação Médica em Otorrinolaringologia (LIM-32) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Responsável pelo Ambulatório de Surdez Súbita do hospital das Clínicas – São Paulo.