Você acha que é alérgico a medicamento, mas pode não ser
Antibióticos e analgésicos são os que mais causam reações alérgicas
Como saber se você é ou não alérgico a algum medicamento? Saiba que há muitas pessoas que se rotulam alérgicas, mas não são. Quem chama atenção para o caso é o diretor da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), Dr. Marcelo Vivolo Aun.
Ele explica que a alergia só pode ser diagnosticada diante de exames clínicos e que a suspeita de uma reação alérgica, no caso a um medicamento, parte de uma relação entre o tempo de exposição ao remédio e o aparecimento da manifestação clínica, o que representa entre 95% e 99% do diagnóstico. Além da história clínica, há testes que podem ser realizados pelo especialista, na pele do paciente ou até mesmo com nova exposição ao medicamento (chamado teste de provocação), sempre supervisionado por especialista experiente na área.
1 – Como “desrotular” esses pacientes que pensam ser alérgicos?
Dr. Marcelo Aun – Primeiro é preciso confirmar a verdadeira alergia ou excluir o diagnóstico errado. Comprovando-se que o paciente que achava ser alérgico a um medicamento não o era, conseguimos “desrotular” esse paciente e liberar o futuro uso daquela medicação, caso necessária.
2 – Há algum tipo de risco para esses pacientes que pensam ser alérgicos a antibióticos, mas não são?
Dr. Marcelo Aun – Sem dúvida. Numa necessidade futura de usar aquele antibiótico, o médico acabará trocando por outra opção que, muitas vezes, é mais tóxica, menos eficiente, mais cara e até de uso injetável, levando a internações desnecessárias. Por fim, algumas classes de antibióticos induzem mais resistência bacteriana do que outras, causando um risco futuro para aquele paciente e para toda a sociedade.
3 – A alergia a medicamento é imprevisível. Como saber que se está diante de uma reação alérgica nesse caso?
Dr. Marcelo Aun – O aparecimento de sintomas após a introdução de uma nova medicação sugere se tratar de uma reação adversa àquela substância. Mas pode ser apenas uma coincidência e nem todo efeito adverso é uma reação alérgica, pode ser apenas efeito colateral, por exemplo. Ou seja, na suspeita, o paciente deve procurar assistência médica para orientação e investigação adequadas.
4 – Qual o percentual de pessoas alérgicas a medicamento no Brasil?
Dr. Marcelo Aun – Não há dados concretos no Brasil. Nos Estados Unidos entre 8% e 10% da população se refere alérgica à penicilina e, quando investigada completamente, nem 10% deles verdadeiramente são alérgicos (falso rótulo!). No Brasil, acredita-se que a classe mais envolvida seja a de analgésicos e anti-inflamatórios, estimada em 0,5% a 1,0% da população adulta.
5 – Há muita prescrição desnecessária de antibióticos no Brasil? Como diminuir isso?
Dr. Marcelo Aun – Certamente há um uso excessivo de antibióticos, mas não é um problema só brasileiro, mas da medicina mundial. Os médicos precisam lembrar que mais de 90% das infecções são causadas por vírus, e esses casos não devem ser tratados com antibióticos, na maioria das vezes. Só a formação adequada da classe médica e os atendimentos com ênfase em boas histórias clínicas e exames físicos podem minimizar os erros diagnósticos e terapêuticos.
Sobre a ASBAI
A Associação Brasileira de Alergia e Imunologia existe desde 1972. É uma associação sem finalidade lucrativa, de caráter científico, cuja missão é promover a educação médica continuada e a difusão de conhecimentos na área de Alergia e Imunologia, fortalecer o exercício profissional com excelência da especialidade de Alergia e Imunologia nas esferas pública e privada e divulgar para a sociedade a importância da prevenção e tratamento de doenças alérgicas e imunodeficiências. Atualmente, a ASBAI tem representações regionais em 21 estados brasileiros.
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